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A morte de Ziraldo mobilizou a inteligência nacional, fossem artistas, escritores, ou intelectuais. Todos falaram de Ziraldo, engrandecendo sua memória. Curiosamente, pareciam falar a mesma língua.

Ziraldo foi uma figura síntese, assim como o Estado em que nasceu, Minas Gerais, a síntese do Brasil. E assim como as Gerais, Ziraldo transmitia grandeza e simplicidade, simultaneamente. Não tinha pose, mas tinha história.

Estive com Ziraldo uma única vez, num voo doméstico, onde, incrivelmente, sentamos lado a lado.

Eu conhecia Ziraldo das histórias, lidas e ouvidas, do Pasquim e dos amigos.

Como nos formamos na mesma escola (Direito, na UFMG) e tínhamos amigos comuns (dois colegas de turma, que se formaram com ele), puxei conversa. E ele conversou. Falamos sobre o passado.

Confirmou suas proezas numa viagem de navio, que os formandos de sua turma fizeram à Europa, para comemorar o bacharelado, conquistado na “vetusta Casa de Afonso Pena”. Esse era o costume dos mais “abonados”, então, nos anos 1950 e até muito tempo depois.

O transatlântico, que partira de Buenos Aires, fazendo escala no Brasil, trazia centenas de europeus vindos das terras portenhas, então entre as mais prósperas do mundo.

Ziraldo organizou os colegas e decidiram fazer uma exposição artística sobre o Brasil, com cartazes, pinturas, artes plásticas, além de curtas representações musicais e teatrais.

Ele se tornou a maior celebridade do navio. Sendo que os passageiros, agradecidos pelo entretenimento, passaram a mimar os formandos com comes e bebes.

A farra teria durado dias e dias. Uma confraternização impressionante, a caminho da Europa. Muitas amizades e referências internacionais começaram ali.

Como disse Ruy Castro, Ziraldo era capaz de qualquer coisa. Se destacando em qualquer coisa que fizesse. Sua ausência será sentida. Mas suas histórias serão lembradas.

(Marco A. Adere Teixeira – historiador, Advogado e Cientista Político)