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Susan Neiman, filósofa norte-americana, publicou uma obra afirmando que “a esquerda não é woke”.

O movimento “woke” é conhecido por sua pauta identitária: questões sobre gênero, raça e assemelhados. Trata-se de um vespeiro.

Especialmente porque a autora identifica a base do pensamento “woke” como pertencente à pensadores amorais, ou de extrema direita.

Entre os amorais estaria Trasímaco (um vigoroso personagem da “República”, de Platão, que desenvolve importante raciocínio num debate) e Michel Foulcaut, filósofo francês que não reconhece qualquer virtude no poder estruturado, ou institucionalizado.

Nesse ponto, vemos que o amoralismo e o niilismo guardam alguma correspondência.

O pensador de extrema direita, por outro lado, que estaria associado aos movimentos “woke” seria Carl Shimitt, brilhante jurista alemão, filiado ao Partido Nazista, preso por isso no pós guerra. Schmitt, adversário de Hans Kelsen (talvez a maior referência mundial, na filosofia do direito moderna), era crítico contumaz da democracia liberal e do Estado de Direito institucionalizado. Seria um arranjo “frouxo”.

A filósofa atribui à esquerda a tradição universalista e iluminista. A perspectiva identitária seria reducionista, de certa forma elitista, em relação à grande tradição da esquerda, em geral. Querem empurrar o movimento “woke” para a direita…

Há controvérsias.

Provavelmente, o maior expoente da esquerda internacionalista, Trotsky, ex-comandante vitorioso do Exército Vermelho, durante a Revolução, teria dito o oposto.

No período em que viveu no México, anos antes de ser assassinado a mando de Stálin, Trotsky publicou um manifesto, juntamente com Diego Rivera, grande artista mexicano. Casado com Frida Kahlo (talvez a maior referência mundial das artes, no México), Rivera e Trotsky formularam um texto à época polêmico, que denunciava a exclusão “cultural”. Seria tão nociva quanto a exclusão econômica, pois excluía as minorias, e suas culturas, da sociedade. Eliminando-as, de certa forma. Caberia à esquerda internacionalista resgatar essas minorias, especialmente aquelas associadas à pauta identitária e cultural. Reconhecer as minorias, e dar-lhes voz, estaria entre as prioridades da matriz trotskista.

Esse capítulo do trotskismo não seria muito explorado, em virtude de um “barraco”: Rivera rompeu com Trotsky, acusando-o de ter tido um caso com sua mulher, Frida Kahlo…

Logo, segue o debate.

Em tempo: no Brasil, um dos maiores conhecedores da obra de Carl Schmitt seria Gilmar Mendes, do STF, que redigiu a apresentação de uma das obras de Schmitt, no Brasil, “O guardião da constituição”. Mundo pequeno…

(Marco A. Adere Teixeira – historiador, Advogado e Cientista Político)